Juarez Parolin's profile

Um Corintiano Chato


Sou corintiano desde que me entendo por gente. Todo mundo da minha família é corintiano. Meu pai, minha mãe e minha irmã. Mas sem dúvidas o mais corintiano de todos é o meu pai. O cara é nervoso, supersticioso, reclamão, e chato em muitos momentos. Eu reclamo disso? De maneira alguma! Me divirto muito vendo jogos com o meu pai porque toda a reclamação dele chega a ser engraçada e eu sempre acho muita graça. Embora eu ache que ele não fique muito feliz em ver eu rindo da cara dele porque obviamente ele leva o Corinthians muito a sério. Eu também levo. E muito. Só não consigo me conter. O velho é um personagem. Mas enfim, futuramente dedico textos ao meu pai. O lance aqui é que eu peguei muito da chatice de corintiano dele e simplesmente fui levando a minha vida sendo um corintiano chatão igual a ele. Mas chatão de um jeito interessante.

No dia 07 de setembro de 2018 comecei a namorar a Ana. Começo de namoro é aquela coisa, né. Todo apaixonado, a vida é linda, estou muito feliz e radiante e blá blá blá. Em outubro do mesmo ano teve um Corinthians x flamengo, onde o Timão estreou a terceira camisa que era uma homenagem ao saudoso Ayrton Senna. Uma camisa linda, inclusive. Me arrependo de não ter comprado. Um dia a terei. Mas voltando ao namoro, eu estava empolgado e queria apresentar um pouco do meu mundinho para ela. Ela não dá a mínima para futebol, mas aceitou de muito bom grado fazer parte desse mundo futebolístico para agradar o novo namorado.

Ingresso barato. 50 conto. Um milagre. Comprei para mim e para ela. Estouro. Tenho uma coleção grande de camisas do Corinthians. Usei a minha favorita que é o segundo uniforme do time de 2000 que ganhou o mundial e para ela emprestei uma do ano anterior, 2017, que fomos campeões brasileiros. Cara, eu emprestei uma camisa pra ela… tava tudo errado e eu não percebia. Vou ter que voltar a falar do meu pai aqui. O véio pode ser chato, mas ele manja muito quando o assunto é futebol. Entre as coisas que ele falou estão “Você vai levar uma pessoa que nem é corintiana pro estádio?” e “Não vai ver jogo do Corinthians quando estreia terceira camisa porque vai perder, André.” Eu só estava apaixonado e queria levar minha namorada pra ver um jogo. Tava cagando pra superstição. É, mais ou menos…

Já no metrô eu estava cagando de medo e pensando nas frases do meu pai. E a Ana ali do meu lado, feliz e apaixonada, sem fazer ideia que uma tragédia estava prestes a acontecer. Chegamos no estádio, aquele clima maravilhoso. Por um momento achei que toda aquela energia iria trazer a vitória para o nosso lado. Todo mundo cantando desde o metrô, a energia estrondosa, a galera cantando. E claro, Corinthians estava jogando em casa. Sempre mandou bem como mandante. O time podia ser uma merda, mas em casa era outra parada. Tudo dava a entender que a noite seria nossa. Só que não. Sendo bem curto e grosso, Corinthians tomou três na bunda, sem cuspe e com areia. E aí entra a parte corintiana chata minha. No segundo gol, simplesmente fui embora. Larguei minha recente namorada sozinha no estádio. Peguei o fluxo com um monte de corintiano triste que estavam deixando o estádio. Ao mesmo tempo que eu estava triste com o Corinthians, me senti mal por deixar minha namorada sozinha em um lugar que ela nunca tinha ido na vida. Uma atitude extremamente babaca. 

Esperei ela do lado de fora. Ela me encontrou, com cara de brava total. Não falei nada porque estava mal demais para falar alguma coisa. Estava me acalmando e já me preparando para me desculpar pela atitude infantil. Mas eis que no caminho para o metrô, escuto dois caras conversando sobre um terceiro gol. Eu fiquei tipo Quê?? Levou mais um?? Não acredito! Perguntei para os caras se tinha realmente levado o terceiro e eles confirmaram. Fiquei mais puto ainda e qualquer chance de falar alguma coisa pra ela foi pro espaço. Fiquei sem falar com a minha namorada pelo resto da noite. É, e meu pai bem que tinha falado…

No dia seguinte a gente se resolveu. Deu tudo certo. Mas ficou combinado que ela nunca mais ia ao estádio comigo porque prefiro não arriscar. Aquela foi a primeira e última vez. Ela não ligou para esse combinado, achou graça. Nunca ligou para futebol mesmo. Agora vem a parte engraçada. Sempre que eu vou na casa dela e o Corinthians joga, ele ganha. Em quatro anos de namoro nunca vi o Corinthians perder na casa dela. Já ganhou até clássico contra o Palmeiras, onde tínhamos um time claramente inferior. Toda vez que tem jogo do Corinthians meu pai pergunta “Vai na Ana hoje?”. Eu apenas respondo que sim e ele lança “Então hoje a gente vai ganhar”.

P.S: Minha irmã e a melhor amiga, a Bruna, foram no estádio nesse dia. Minha irmã é corintiana legítima então ela está isenta de culpa. Já a Bruna é corintiana de tabela e não acompanha o time, não faz parte do bando de loucos. A força da presença dela e da Ana no estádio contribuíram para essa humilhação, certeza. Se fosse só a Ana, ia tomar 1x0 só.



Registro do autor momentos antes da desgraça acontecer.
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